terça-feira, 13 de outubro de 2009

Ao manOlavo (agora caiu a ficha!!!)


Pois é, no última dia 29 foi o enterro de meu único irmão, quase dezoito anos mais velho do que eu - ou seja, práticamente uma geração à minha frente. Sou espiritualista, e tenho certeza que essa alquimia muito me ajudou a enfrentar esse processo, mas...


De início, tudo parecia parado, como se o tempo estivesse bolinando comigo - "onde já se viu isso, meu mano véio morto!?"


E a cortina da vida foi se descerrando, lenta e gradativamente, até que realmente me caiu essa ficha, e percebí que, depois de meus pais, perdí meu último elo de ligação a um todo histórico mais próximo - minha célula familiar - "sim, meu irmão está morto!" - e vários flashes de lembranças sobrevieram à minha mente...


Eu me permito afirmar que três fases distintas marcaram profundamente minha ligação com ele. Numa primeira fase, ele foi como que um herói onde, direta e indiretamente, fortes valores me acabaram sendo passados e por mim absorvidos, uma espécie de continuidade em que eu trilharia esse caminho que me permitiria galgar os degraus das minhas realizações... creio que isso se passou em minha infância, minha puberdade, minha adolescência e até uma parte de meu ser adulto.


Na fase intermediária, eu diria que meu irmão tornou-se o "vilão" desse meu processo - e escrevo vilão entre aspas, porque quero deixar claro que ele nunca soube disso, muito menos agiu de forma como se assim o fosse, pois tais parâmetros não me foram por ELE inculcados ou impostos - onde acabei percebendo que tais valores diferiam e muito daqueles que se processavam dentro de mim, com perspectivas e buscas completamente distintas com relação à minha pessoa e com este mundo enorme ao meu redor. Mesmo assim, respeitávamo-nos como seres singulares e nos amávamos como seres cósmicos ligados pelo mesmo sangue. Esta foi, talvez, a fase mais longa...


Na terceira e última fase - que durou o tempo entre sua partida de Sampa até sua morte, uns seis anos aproximadamente - conseguimos realizar o bom combate juntos, mesmo que na maior parte desse tempo à distância. Foi um período em que não só consegui enxergar nele um grande amigo e companheiro como, também, um filósofo inato; ele me premiou com poucas e boas frases oriundas de sua experiência e de seu grau de evolução. E certamente nunca esquecerei disso, nunca! A saudade que ele sentia de sua terra natal tornou-se bastante forte, a ponto de combinarmos sua vinda prá cá por uns tempos - e isso, sem dúvida alguma, representaria um altar à nossa ligação - mas, infelizmente, a doença foi muito rápida e esses planos ficarão conosco num tipo de "memória póstuma"... faz de conta que um dia isso aconteceu!


Mas o que importa mesmo é que esses últimos tempos semearam muita amizade e muita cumplicidade entre nós dois, como se gozássemos dessa relação privilegiada em todo o percurso de nossa história de irmãos.


Portanto, acho que é agora, neste exato momento, que me despeço dele com o coração permeado pela alegria e pela saudade. Você foi um grande camarada, Olavo, e deixou este plano tão rápidamente que só agora é que tive vontade de sentar e escrever estas linhas, só agora.


Não sei exatamente onde você está, mas tenho certeza absoluta que está muito bem, e isso me deixa feliz. Um dia a gente vai se reencontrar, e até lá quero deixar registrado meu carinho, meu amor e meu muito obrigado por tudo o que fez por mim e por minha família.


- Tchau, mano véio, permaneça na energia divina...




manOsmar