terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fechando o ano de 2010.


Já faz um bom tempo que não escrevo neste meu espaço, e isso tem mexido com meu "eu" constantemente, pois, se tem algo que gosto de fazer, a isso chamo de escrever, independentemente da vertente do conteúdo.
Confesso que estou fechando um ano com chave de ouro (a duras conquistas!) comigo mesmo, o que é importante! Estou sentindo a "insustentável leveza de meu ser" desde os últimos dois meses para cá, aff!, ainda bem, afinal, ainda sou filho Dele, não é mesmo? Diria que é o inicio do espocar de um longo processo de maturação que vem acontecendo de cinco anos para cá, aproximadamente e, creiam, um processo doloroso e angustioso... mas estou começando a colocar a casa interior - meu altar pessoal - em ordem, graças a Deus, a uma série de circunstâncias e, lógicamente, a mim. Não existe mágica ou milagre no dia-a-dia, a vida apenas é o que tem de ser dentro dos limites do prazer e da dor. E agradeço por tudo o que me aconteceu nesse período, tudo mesmo, pois hoje sinto minha bagagem um pouco mais pesada e aumentada através das experiências da vida.
Enfim, estou escrevendo tudo isso apenas com o intuito de desculpar a mim mesmo por ter permanecido todo esse tempo numa espécie de inércia... mas, agora, o movimento reinicia!
Não pretendo mais deixar de postar neste meu blog; para isso, firmo a mim mesmo a meta de escrever um artigo semanalmente - no mínimo!
E aproveito o momento para agradecer ao cosmo por tudo - sejam coisas divinas ou não - pelo momento de crescimento pessoal que venho passando. Dizem que o sofrimento nos torna sábios, mas longe disso querer fazer disso uma verdade pessoal minha; apenas quero compartilhar alegrias e tristezas com quem estiver por aqui lendo estas minhas linhas...
Espero que tudo o que aqui coloco sirva de patamar a todo tipo de questionamento possível, pois é mudando (e sentindo-se em mudança) que conseguimos evoluir neste planeta, seja como ser humano ou como espírito.
Agradeço a todos os seguidores pelo carinho e compreensão de sempre, desejando um 2011 pleno de realizações divinas, cada uma dentro do merecimento de cada um. Fiquem na energia divina com um forte abraço meu, obrigado.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Jantar.


O mês inteiro no preparo daquele jantar.
Tudo deveria estar impecável.
A quantia que o Dr. Dirceu adiantou merecia uma gentileza; assim, os juros talvez seriam perdoados e novos contatos surgiriam.
Oportunidade única de evitar a ruína iminente -
sua missão estava cumprida!
Era torcer para que todos viessem.
Olheiras pesavam no rosto de seu companheiro que, arqueado, revelava cansaço em seu humilhante sorriso sem jeito ao cumprimentar os convidados que chegavam.
Pouco a pouco, o som das gargalhadas se distanciava, tornando aquela cena um teatro mudo de horrores.
Era possível a ela ver, no lugar dos corações daqueles seres, buracos mal cheirosos, purgando um líquido morno e sem vida.
No lugar de mãos, bocas retorcidas e garras completavam a imagem dos personagens daquele espetáculo grotesco.
Trazendo o prato principal, a empregada quase derrubou a bandeja ao perceber o rosto lívido da patroa.

Um garfo cai...ela desperta, então!
Percebe, assustada, que alguém a está encarando; a caricatura do grupo  se esvai e ouve a esposa de um dos investidores elogiando a vitela.
Responde de forma gentil, voltando a si, mas fica intrigada e começa a olhar com mais atenção, cada uma daquelas figuras sentadas à mesa.
O tom melódico das vozes hipinotiza, tornando irrecusáveis as propostas.
Os sons tornam a sumir e  ela nota então que, junto dos que à mesa estavam, espectros se aproximam, sugando tudo o que poderia ser sugado naquela sala - o perfume da carne, as bebidas, a energia daquela farsa, onde um precisava tirar do outro o maior  e melhor proveito.
De maneira ávida, porém, discreta, vê nitidamente quando algo se aproxima do mais falante, e se acopla em sua jugular, criando uma simbiose bizarra.
O sensível esposo afunda na cadeira cada vez mais e,  pela primeira vez,  seus olhos brilham de alegria com um  tolo comentário ao ser elogiado pelos demais.
O chão do aposento está forrado de ratos e baratas, o teto é coberto por um manto negro que se move estranhamente, insetos e morcegos festejam a refeição.
Todos vieram! 

Carmo Tavares  

sábado, 21 de agosto de 2010

Réquiem Aeternam Dona Eis




















"Dai-lhes o repouso eterno".


É chegada a hora do último adeus. Uma derradeira caminhada para um destino do qual todos queremos fugir, mas ao qual estamos irremediávelmente condenados.

Em volta do caminho, monumentos de pedra e cimento nos dão alguma certeza inconsciente de que a jornada será segura.

Inevitável dor para os entes queridos que ficam, desagradável obrigação moral para os nem tão próximos.

Sensações que nos levam a baixar o olhar, como que procurando no chão um alívio milagroso para essa agonia velada.

Será realmente a morte o fim da vida? Será tão sombrio e triste o outro lado? Questões que incomodam e intrigam.

A coragem de erguer a cabeça e lançar um molhar mais observador e menos apaixonado sobre as peças revela beleza e vida, em contraponto ao silêncio eterno das almas em sua última morada.

(texto de Wilson Mahana)


Para quem aprecia arte tumular, vale a pena ir ver a exposição do fotógrafo J. Andrade na estação Clínicas do Metrô, com várias fotos em 'pb', ilustradas com magníficos versos do poeta Augusto dos Anjos (1884/1914). Eu ví, apreciei e amei, por isso tomei a liberdade de divulgar este trabalho em meu blog.


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Minoria X reacionarismo.


Fui educado dentro de um processo de respeito ao próximo, ou seja, dar lugar aos idosos, mulheres grávidas, pessoas com crianças de colo, enfim, como meus pais me ensinaram - sempre me portei dentro desses parâmetros, não por culto ao que o social pensa de mim, mas por acreditar nesses preceitos.

Infelizmente, percebo que esses tais atitudes estão se tornando raros - a indiferença e o descaso têm sido companheiros leais no comportamento das pessoas, salvo algumas exceções, lógico!

Mas, também, percebo que essa "elite" diferenciada tem apresentado comportamentos que excedem o limite da compreensão e da paciência. Hoje, por exemplo, estava na fila do ônibus e, como de praxe, os idosos subiram à frente para, teoricamente, ocuparem os lugares que lhes são concedidos por lei. Haviam pelo menos uns oito representantes dessa faixa etária e praticamente todos foram ocupando os assentos que lhes são destinados por direito, com exceção de um casal que teve o descaso de se sentarem isoladamente em bancos individuais e não preferenciais...

Eu era uma das pessoas que pretendia sentar num dos dois bancos e não consegui deixar de olhar para ambos e comentar que eles estavam ocupando um lugar comum, e isso não estava certo, pois ainda haviam lugares conferidos a eles!

O homem, olhando-me de frente, apenas limitou-se a responder um sonoro "um dia você também chegará aqui, como eu!", ao que redargui de imediato "sim, certamente, se não chegar, páro no caminho, mas tenha a certeza que continuarei prezando por meus direitos e obrigações de cidadão, e acho que o senhor, agindo assim, está abusando de seu privilégio!"

Ele simplesmente desviou o olhar, como se eu nada significasse...

Fiquei extremamente chateado. Valeria a pena continuar uma discussão assim!? Ao meu ver, não, porque eu perderia terreno pelo simples fato de incorrer num estado tal onde a hipocrisia, acobertada pelo inconsciente coletivo, fariam com que eu parecesse o carrasco de tal acontecimento, e longe de mim isso!

Sinto-me pesaroso escrevendo isto, mas não conseguí fugir à minha têmpera e caráter, pois acho e, infelizmente, tenho certeza de que a tal "melhor idade" não aprimora os seres humanos - ao contrário, com o tempo, eles vão se revelando um pouco mais!

Tenho cinquenta e quatro anos de idade, e sei que estou a caminho da velhice - se não parar antes no percurso da vida - e jamais me permitirei utilizar de atitudes mesquinhas, amparadas numa lei hipócrita, pois acima de tudo, sou um cidadão, e as relações deveriam simplesmente ser pautadas nessa troca - a cidadania pela cidadania!

Fui!!!!!!!


quinta-feira, 22 de abril de 2010

Non Ducor Duco.




























Não pretendo ser saudosista - longe disso! - mas sinto na pele e no "meu" tempo mudanças assombrosamente rápidas, sabe, eu, tu, nós...
Venho de uma geração que se permitiu andar descalço e jogar futebol em rua de terra batida - como era bom e saudável, mesmo levando os tais "tropicões" nos pés - e havia, também, as festas juninas com fogueira e coisa e tal, a vizinhança toda participava, era diferente, sem querer dizer que tudo andava às mil maravilhas - estaria mentindo - pois não andava! Mas me parece que as pessoas se trombavam mais e com um tempo mais facilitado para tudo isso...
Era eletrizante ir à loja de discos - longplays - e comprar o último do Black Sabbath, do Deep Purple, entre outros; às vezes, chegava a economizar para, de repente, gastar tudo em som, música, em prazer sonoro, gozo sensorial...
Em poucos anos, a tecnologia driblou e suplantou problemas, tornando-os tão insignificantes que hoje em dia não se valoriza as dificuldades por tudo que as facilidades de hoje nos permitem - como era gostoso gravar uma música emendada a outra numa fita K-7, uma verdadeira batalha para unir tempo e espaço musical através de uma aparelhagem simples ...
Ia a uma pizzaria, há questão de uns parcos quarenta anos atrás, era um verdadeiro acontecimento! E haviam as tradicionais mozzarella, alho e óleo, calabresa, portuguesa e atum. Hoje, enquanto a fome nos devora, perdemos um tempo enorme em escolher o que se vai querer e, quanto maior o número de opções, maiores as dúvidas, uma confusão gastronômica e mental incríveis!
Trânsito! Parece mentira, mas isso sempre aconteceu de forma a nos tirar do sério, como se não houvesse mais possibilidades de melhora, mas... será mera impressão ou os veículos acabaram por tornar-se verdadeiros "tanques de guerra" - uma guerra fria, calculista e de poder - quem está dentro deles confina-se em seu micro mundo e pretende que o resto se dane (para ser mais educado)! Houve época em que automovel era sinal de necessidade; hoje, essa necessidade suplantou o status, impondo uma linha divisória forte e preponderante entre quem realmente necessita e quem tem mais! Progresso!? Não sei, prefiro acreditar que não, principalmente numa capital como a minha, que recebe diáriamente mil veículos novos nas ruas. Tenho até saudades de andar de bicicleta, uma grande aventura nesta cidade que amo, mas que acabou por deixar-me amedrontado e impotente, frente a uma lei selvagem subliminar que permite ao mais forte fazer e desfazer, impondo um estado de insegurança e desrespeito para com o mais fraco... alguém já teve a oportunidade de assistir o filme "Encurralado"!?
Percebo, com isso, que valores importantíssimos foram se perdendo; um deles, talvez o mais importante, é o respeito para com o próximo - não há quem não se sinta com o ego massageado quando tratado com dignidade e respeito! E hoje em dia, aquém desse respeito pelo próximo, não respeitamos a nós mesmos, o que é mais dificil de aceitar!
Namorar no escuro, às escondidas, era sinônimo de conquista. Passear à noite, caminhando e roubando beijos e abraços fazia parte dessa conquista - hoje, nada mais é do que impor-se e conseguir vencer a violência desmedida!
Andar e falar sozinho na rua era um sintoma de loucura... Atualmente, os fones de ouvido de celulares justificam tal atitude. Por várias vezes me ví impelido a procurar a ajuda de alguém com uma dúvida, uma informação ou seja lá o que for, e percebí que estava sendo inconveniente, pois a pessoa acabava por ter de sair de seu mundo hermético para me dar uma resposta rápida e seca! Percebo que um número cada vez maior de "fonados" vem aumentando; pessoas cada vez mais imersas em sua individualidade sonora, sem falar naquelas que não se permitem mais dispor de seu sagrado tempo de almoço, por estarem conectadas vinte e quatro horas por dia a um mísero aparelho de comunicação...
Palavras, palavreados, gírias, chavões... um mundo cada vez mais amplo e que, ao mesmo tempo, foge cada vez mais de nossa língua- mãe. Assusto-me constantemente, escutando verdadeiras aberrações onde, de repente, pergunto a mim mesmo: "o que será que estão querendo dizer com isso!?" Será que devo me sentir como um excluído na terra que me abriu os braços e fez com que a língua portuguesa fosse meu carro-chefe no dia-a-dia!? Essa língua, linda e maravilhosa, cada vez mais perdida em meio a mentes dilaceradas pelas injeções de banalidades passageiras e supérfluas...
Tudo tão rápido e tão sem concretude, sem o troféu da perenidade; valores são construídos na mesma velocidade com que são destruídos - a mídia é mestra nessa arte! Mesmo assim, detesto adentrar o papo ufanista do "antigamente", como se isso purgasse a humanidade dos feitos e das desgraças de sempre...
Como bom libriano que sou, sempre me sentí à vontade para com a proximidade alheia, um papo informal, uma pergunta, etc., mas hoje, exatamente hoje, sinto cada vez mais a distância das pessoas ao meu redor. Existe uma força que move a massa através das ruas, impelindo-as a caminharem como verdadeiros autômatos que não olham o que vem à frente - bólidos humanos (ou humanóides!?) que fazem da força física a mola-mestra da grande aventura do cotidiano, pretendendo mostrar ao mundo que chegaram para dominar, mas não percebem que o nada os está dominando, promovendo uma relação direta entre a massa muscular e a mente bruta...
Até pouco tempo atrás, gerente era alguém que, devido aos longos anos de atividade, possuía conhecimento e experiência do todo dentro da empresa. Hoje, sinto-me ultrajado quando sou obrigado a resolver um determinado problema com um tal gerente - alguém que a parca idade ainda não possibilitou a envergadura de um lider!
As escolas nada mais fazem do que possibilitar diplomas a pessoas despreparadas que, mesmo depois de formadas, ainda se comunicam de forma hilária e patética... A ditadura militar conseguiu efeitos contundentes e letais ao suprimir as cadeiras de Filosofia, Psicologia e Sociologia no segundo grau no início da década de 70 - afinal, para que as pessoas pensarem!? Quem pensa também questiona e age...
Hoje, estou imerso num mundo tão moderno e rápido, mutante e degradante, que tem me incomodado muito, o suficiente para não deixar de tomar meu antidepressivo e perguntar-me aonde irei parar com tudo isso!
Vivemos um momento surpreendente, que nos permite reescalonar valores perdidos num passado tão próximo. Somos nós mesmos que procuramos tudo isso ou somos meros estafermos de um sistema podre que nos alicia e nos anestesia, fazendo com que caminhemos a passos largos, longe de nossa verdadeira essência em querermos um mundo melhor?
Ao menos, resta-me a lucidez de ter a certeza que a energia divina - manipulada e justificada por mentes sórdidas e perversas - está acima de tudo e de todos, permitindo a cada um de nós o livre-arbítrio na senda da vida.

"Alea Jacta Est".

terça-feira, 13 de abril de 2010

Então...


A vida inteira foi sempre a mesma coisa: levantar cedíssimo, ir para o trabalho e chegar em casa no início da noite. Um automóvel excelente era seu parceiro de rotina - talvez seu melhor amigo! - e, vez ou outra, arriscava um cumprimento geométrico com suas sobrancelhas.

De temperamento impetuoso e agressivo, colecionou homéricos bate-bocas - e isso, sem falar nos "finalmente"!

Amigos!? Nenhum, volto a dizer, mas para quê!? Afinal, foi sempre um homem independente, um verdadeiro super-homem.

Ele não percebeu (normalmente, é sempre assim), mas o tempo passou, e hoje limita-se a olhar os netos numa parva expressão de devaneio - verdadeiro "anjo emoldurado".

A morte, com seu olhar frio e calculista, o espreita de esguelho, mas ele ainda não se deu conta disso, e o amanhã continuará reservado a outros e outros e outros, verdadeiros astros e estrelas da incrível dança da vida...



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nos corredores da vida...


Cena 1: caminho através do corredor de acesso ao supermercado onde, também, saem de lá os automóveis em sentido contrário.

Cena 2: escuto o tradicional "bip-bip" de um carro que vem em minha direção; em seu interior estão o motorista e um acompanhante; a buzinadinha foi dirigida a uma morena que caminha à minha frente.

Cena 3: eles acabam de passar por mim e "bip-bip", mais uma buzinadinha e eu, reconhecendo o som, olho prá trás e percebo que a nova homenagem, dessa vez, foi para uma outra garota que vem atrás de mim.

Cena 4: mais um "bip-bip", só que partiu em direção a uma falsa loirinha que estava mais atrás ainda...

Uma única certeza perspassa meu cérebro: as três garotas certamente ficaram na dúvida de quem realmente foi a merecedora daquele "bip-bip" galanteador, não é verdade? E, certamente, frustradas com tamanha indecisão e falta de sensibilidade dos jovens conquistadores que, pelo jeito, não sabem o que querem...

"bip-bip", com licença, estou com pressa!