Não é necessária uma balada repleta de baixarias ou algo similar para sentir a noite, mergulhar em sua imensidão e sentir-se embalado pelo éter da escuridão...
Posso amar a noite até mesmo na pequenez de meu quarto, em meio a uma madrugada insone, com os sentidos antenados ao todo escuro que me cerca, me toca, me possue e até me faz gozar um gozo diferente, sem "ais" e espasmos...
Apenas minha alma goza, num silêncio que combina perfeitamente com o silêncio da noite. Há, também, a despretensão com responsabilidade; o saber-me dono de mim, de meus atos, de meus passos, dono de meu nariz e de meu tempo! Sim, dono de um tempo que se fez ausente durante quase toda minha vida, solicitado para tudo e para todos, menos para mim...
Quantas e quantas noites com o sono fugidio, impotente, olhando para o despertador que, cedo ou tarde, soaria o alarme de mais um dia; o depois chegaria com o peso do cansaço e a inclemência do desespero e da ansiedade!
Mesmo já longe de tudo isso, hoje ainda estremeço me cobrando de coisas que já estão enterradas no cemitério da memória...
E nesta noite - nesta primeira e lúcida noite - me dou conta de como o mundo é grande e, ao mesmo tempo, pequeno aos meus pés. Hoje, eu sou meu amo e meu servo; meu senhor e meu escravo; não domino, porém, não sou dominado; apenas me permito, e permitir-se é ousar, e ousar é transgredir... Hoje me dou conta que anoiteço e amanheço em mim mesmo e para mim mesmo; sou meu criador e minha criatura!
Hoje, tão somente hoje, porque o amanhã - ahh, existirá o amanhã!? - está trancafiado no cofre de meus desejos, e a chave para abrí-lo está guardada em meu coração, dono do meu agora...
Osmar