quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Normopatia.

* Vale a pena ressaltar que por uma série de motivos não tenho andado por aqui... falta de vontade de escrever, muito embora não me faltem as tais idéias, paciência, corre-corre, enfim, coisas que fazem parte das vicissitudes de um mero humano como eu, mas faço questão de publicar este maravilhoso texto que acabei de ler há poucos instantes atrás... O assunto é mais sério do que podemos imaginar e, por incrível que pareça, combina muito, mas muito com certas coisas que se processam dentro de mim. Leiam com atenção e... reflitam!


Normopatia / pelo dr. Geraldo Mendes dos Santos *
Há claras evidências de que a sociedade moderna, em especial a brasileira, está padecendo de um triste e grave mal, o qual pode ser chamado de "Normopatia". Trata-se de uma letargia inexplicável, doentio imobilismo, cruel apatia, verdadeiro espasmo psíquico, onde tudo parece aceitável e normal, até mesmo as mais brutais degenerescências, as mais extravagantes aberrações, nefastas excrescências, as mais terríveis anomalias humanas.
Observa-se por toda parte um certo senso de indignação, descrença e perplexidade de todos frente à pobreza, violência, injustiça, corrupção, politicagem e outras mazelas sociais, entretanto nada de profundo se faz para reverter esta situação. Todos parecem vítimas silenciosas, por todos os lados impera o pacto da nulidade e da inoperância. Não mais correm manifestações arrojadas e empolgantes, movimentos populares entusiasmantes. Tem-se a impressão que a sociedade está atônita, inerte, engessada, tonta, semi-morta.
O egoismo é um sentimento crescente e as pessoas parecem estar perdendo o sentimento da compaixão e comunhão com o sentimento alheio, prostituição e exclusão, abate das florestas e dos cerrados e perda dos solos, com contaminação das águas, com a destruição do meio. A brutal violência, diáriamente estampada nos jornais, bate-papo na rua e nos programas de televisão e rádio quando muito despertam curiosidade, não mais espanto, nada de comiseração.
A Normopatia parece ser uma doença contagiosa, provocada principalmente pela insensatez e ganância embutidos nos programas econômicos, na alternância estonteante dos padrões tecnológicos e nas violentas modificações dos paradigmas éticos e morais.
Consequências mais imediatas e visíveis de seu quadro clínico são a falta de assistência aos necessitados, o terror das drogas, o empobrecimento dos assalariados e trabalhadores, a banalização da violência. Seu principal agente infeccioso é o capitalismo neo-liberal, destruidor da produção em pequena escala, gerador da concentração da riqueza nas mãos dos poucos espertalhões sem cara, nome ou endereço.
Os veículos de propagação desse mal são as lideranças políticas e seus apaniguados que traem o interesse do povo, vendem o patrimônio da nação e aderem cinicamente ao mercado internacional globalizante, insensível, selvagem e humilhante onde a ordem é tirar o máximo lucro, mesmo que à custa a degradação ambiental, a dor, a doença, a fome.
Neste sistema político, a tecnologia parece ser apanágio de modernidade e salvação coletiva, mas os consumidores se deparam constantemente com placebos em lugar de remédios, automóveis e instrumentos fabricados com a absoluta e baixíssima previsão de longevidade, além de montanhas de sucatas e lixos atômicos, alimentos inseguros e perigosos com o pomposo nome de transgênicos.
No universo virtual, as pessoas pouco produzem e descansam, pois como escravos, passam noites e dias debruçados em micros, navegando em busca de negócios, dados, notícias ou meras distrações. No mundo da economia, a ordem do dia é compra/venda, de preferência com o máximo de lucro! E também não importa o que se negocia, se supérfluos, drogas, venenos, órgãos humanos, orgias, promessas de beleza e sucesso, salvação da alma, levianas utopias!
Ciência do momento, além da informática é o marketing, que cria expectativa e necessidade, vende imagem de progresso, transforma assassino em vítima, bandido em mocinho, malfeitor em boa-gente. O noropata é normalmente acomodado, passivo, intransigente, orgulhoso, sem muita esperança, criatividade para nada; seu jargão predileto é aquele que diz "tá bom demais, se melhorar estraga!".
Ao mesmo tempo é uma criatura fraca, que se deixa levar fácilmente pelos apelos da mídia, pelas benesses dos privilégios, ações dos maus políticos, pelas tentações da gula, da rede e da cama.
Não é preciso ser médico, filósofo ou humanista para perceber que se faz necessária a aplicação de poderosos remédios e práticas para combater esse terrível mal que aflige a humanidade, sobretudo a sociedade capitalista - geradora de Babéis, Sodomas, Gomorras, Favelas... S.O.S.!

* dr. Geraldo Mendes dos Santos - pesquisador no Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática (CPBA).