segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"N" ou "F"?



Legal, com saúde não se brinca mesmo, só que sempre fui relaxado comigo, sempre, como se quisesse provar para mim mesmo uma pretensa e falsa imortalidade - só que de anos para cá, venho caindo na real, como se minha alma pretendesse mostrar exatamente o contrário ao meu corpo!

Ir a um médico, para mim, é uma espécie de tormento, pois acredito numa lei que me diz (e garante) que quem procura, acha! E como pertenço ao seleto clube dos humanos, também não me considero perfeito. Por este e por outros motivos, quando o "bicho pega" procuro por um profissional juramentado - e não precisa estar de branco, não, pois não sou preconceituoso!

Este preâmbulo serve apenas para provar a mim mesmo que a medida do ser humano é o próprio erro - de onde se depreende que é errando que se aprende, certo? E a vida tem me provado que é prudente confrontar diagnósticos clínicos, sempre!

No dia 23 de agosto sofri um traumatismo numa estação de Metro (história longa que carece ser abreviada) e isso me custou um ferimento profundo na parte frontal mediana da perna esquerda que, à principio, pensei poder tratar com cuidados domésticos, até chegar à conclusão de que estava infeccionado e me causando fortes dores na região.

É lógico que fui ao médico. Receitou-me tomar um antibiótico durante dez dias, sendo que nesse período eu deveria procurar lavar o ferimento com água e sabão e deixar sem curativo o maior tempo possível.

Realizei o tratamento com responsabilidade, muito embora a ferida não tivesse cicatrizado ainda, mas pensava que fosse uma questão de tempo... Tempo de procurar outro médico, porque a vermelhidão e o pus voltaram a marcar seu território, como que sentindo saudades de minha perna.

O profissional chegou a me deixar assustado, dizendo que isso poderia transformar-se numa erisipela, e eu poderia, com isso, ganhar um pesadelo para o resto de minha vida - vade retro! E voltei a tomar antibiótico, outro tipo mais forte e com um leque de indicações mais amplo, aconselhando-me a fazer compressas de água e sal para amolecer a casca do ferimento e permitir uma cicatrização melhor de dentro para fora.

Logo na primeira noite, fiz essa aplicação de algodão com água e sal durante um tempo que foi suficiente para sentir a tal casca amolecer e sair... Só que no lugar, ficou um buraco enorme, com um aspecto nada bom. Isso, aliado à forte dor que iniciou, fez com que eu me preocupasse em fazer um curativo, não deixando a ferida exposta durante a noite de sono até ir novamente ao pronto socorro para buscar uma opinião sobre como e o que usar no curativo. Utilizei uma pomada que estava em meu estojo de primeiros socorros, a conhecida "N" e, no dia seguinte, fui à procura da opinião de outro médico que, de forma tácita, me repreendeu por ter feito a compressa com água e sal e, também, por ter passado a pomada, tecendo uma série de argumentos técnicos e, ao mesmo tempo negativos sobre isso, convencendo-me a somente lavar a ferida com água e sabão e continuar tomando o antibiótico. Em seguida, preencheu uma folha com prescrições para um curativo e o entregou a uma enfermeira que, gentilmente, me encaminhou a uma pequena sala para fazer um novo curativo.

Depois de realizar uma boa assepsia no machucado, ela pegou de um tubo de pomada para completar o curativo, mas adivinhe qual era a pomada? - Sim, exatamente, "N"! De imediato, eu questionei o procedimento, dizendo-lhe o que o médico havia me explicado sobre isso...

Em meio à dúvida, a mulher foi procurá-lo, mas ele havia saído, e isso fez com que ela retornasse com um outro médico que, depois de examinar minha perna, aconselhou-a a aplicar, sim, o unguento por mim contestado. Mas, usando de meu bom senso, disse-lhe o que seu colega havia orientado há poucos instantes atrás... e quem ficou na dúvida em relação à dúvida foi este que, meio contrariado, disse à cuidadora que só utilizasse uma gaze e esparadrapo no curativo.

Bem, acabei de retornar do litoral, onde tive a chance de tomar quatro maravilhosos banhos de mar e, acreditem, a ferida está bem melhor, bem melhor mesmo. E resolvi contrariar a tudo e a todos utilizando o bom senso de minha mulher, que me aconselhou a utllizar em meus curativos uma pomada chamada "F" - famosa por seu efeito regenerador e cicatrizante. Está indo tudo bem, e tenho certeza que em breve estarei curado, mas, cá entre nós, com todo o respeito por Hipócrates, o bom senso e a precaução devem se fazer presentes em situações como esta. Estou errado?



"O maior e o mais velho amor, é o amor pela vida". (Plutarco)




quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Mancha.







Neste domingo, enterrei no fundo do meu quintal uma gata que marcou sua presença por no mínimo vinte e três anos; era preta e branca e se chamava Mancha, graças a uma marca escura que tinha no lado esquerdo do seu lábio superior, e que viveu a maior parte de sua vida de um jeito diferente, fora de casa, pelos muros e telhados; sempre que percebia nossa aproximação ao voltarmos para casa depois de um período de ausência, vinha ao nosso encontro, recebendo-nos e acompanhando-nos entre meneios e brincadeiras por cima dos telhados das garagens da rua até que chegássemos à nossa casa; por mais que tivéssemos tentado colocá-la para dentro, dando-lhe um lar, nunca conseguimos essa proeza - a não ser de uns dois anos para cá - e mesmo assim, por vontade dela, como que nos intimando com um sonoro cheguei para ficar! E ficou mesmo porque, daí em diante, instalou-se de tal forma que só saía para tomar o seu solzinho.



Seguindo a lógica da tabela de correspondência de idades entre felinos e humanos, ouso afirmar que a vovó (como a chamávamos) partiu para o outro plano com aproximadamente cento e dois anos de existência - é muito tempo nas costas, ou melhor, no dorso!



Seu final de vida foi marcado por uma total surdez que, por sua vez, era compensada por um olfato refinadíssimo; como passou práticamente 9/10 de sua existência meio que longe de pessoas, não desenvolveu uma sociabilidade plena, era meio que selvagem e quando se permitia estar conosco (em suas raras visitas), aplicava-nos uns afagos meio que grotescos, espalhafatosos e desengonçados, sem controle, e foi somente depois de sua constante presença conosco que conseguiu, lentamente, uma melhor performance para com suas emoções.



E foi nesse curto espaço de tempo que essa gata coroou sua existência, demonstrando um amor incondicional inquestionável, livre de qualquer interesse mesquinho e/ou interesseiro; simplesmente, ela nos amava e, sendo assim, amou-nos até seu último suspiro - que se deu tão harmoniosamente, que faria inveja a qualquer pessoa que ainda não estivesse convencida da brevidade de sua passagem por aqui...



Vez ou outra, escuto algumas pessoas proclamando um "mande amor incondicional para esta ou aquela pessoa" como se fosse a coisa mais fácil de se fazer! Com o passar do tempo, acabei concluindo que a energia do amor incondicional foi dada a pouquíssimas almas evoluídas que por aqui passaram - Cristo, Buda, São Francisco, entre outras, que o digam...



Os animais irracionais amam e se dedicam aos seus donos desprovidos de toda e qualquer relação interesseira e/ou mesquinha; não roubam, não estupram, não traem, não matam e, também, não esperam pelo retorno desse amor abnegado - ao contrário, só contribuem para que as pessoas consigam perceber isso (quando percebem) através da leveza de uma troca no dia a dia, o que acaba sendo uma dádiva a quem deles toma conta e cuida, e isso, talvez, lhes permita uma reflexão maior e melhor sobre esse processo de troca de carinho e, vez ou outra, faça com que uns e outros consigam rever sua conduta numa espécie de autoavaliação, como se a evolução pessoal acontecesse em doses homeopáticas, eu diria.



Fico impressionado como essa gatinha marcou seu território em nosso lar e, consequentemente, em nossas vidas - é como se ainda estivesse conosco, dando sinais de sua presença. Sinto-me feliz por ter compartilhado momentos de amor e carinho com nossa Mancha, sabedor da reciprocidade descompromissada que existiu nessa relação...



Seria extremamente gratificante e perfeito se todos nós, sem exceção, conseguíssemos fundamentar nossos atos cotidianos espelhados na grandeza ímpar dos animais, sem pretender, com isso, incorrer numa pieguice fora de hora - gratificante, por me dar a certeza de que as sementes deixadas pelo tão propalado Cristo, há mais de dois mil anos atrás, realmente vingaram e germinaram; perfeito, porque isso justificaria a prova cabal de sermos chamados filhos de Deus...



Seria - futuro do pretérito!



Obs.: Esta foto da Mancha foi tirada durante seu último ano de vida.








terça-feira, 19 de abril de 2011

Determinados fatos acabam salvando o dia...



Primeiro, no supermercado, eu me encaminho até duas pessoas para pedir uma informação...

- Bom dia, por favor, vocês sabem onde posso encontrar trigo para quibe? - Um deles tem uma camiseta com o design da Ferrero Rocher, e o outro, o uniforme do supermercado que, ao escutar seu celular tocando, ignorou completamente minha pergunta atendendo-o de imediato. O rapaz dos chocolates reparou na situação constrangedora e, meio sem jeito, procurou ajudar-me da melhor forma possível.

- O senhor pode me acompanhar? Acho que é por aqui... então... vejamos... acho que é... ahhh, não falei!? Olha só, trigo para quibe, certo???

Realmente, a solicitude e a simpatia desse jovem conseguiu amenizar a bronca com a qual olhei para o outro...

- Na boa, mas teu amigo realmente é meio "casca-grossa", hein? Nem ao menos um "um instante, por favor", ou algo parecido... se eu fosse um cara do mal, tranquilamente iria tentar prejudicar esse cara sem educação reclamando com a gerência! - E não é que o sr. Rocher teve mais jogo de cintura ainda!?

- Então, dotô, vai um ovo da Ferrero aí!? Tá chegando a Páscoa, tem as pessoas que o senhor gosta, né!? Chocolate do bom...

- Na verdade, faz tempo que a Páscoa nada significa pra mim, amigo, eu e a família não vamos atrás disso...

- Mas é um dia especial, vocês trocam presentes e coisa e tal...

- Tudo criado pela imaginação fértil de quem quer convencer milhões de pessoas a consumirem os tais óvos de Páscoa, certo? Presente a gente pode trocar a qualquer hora, quando der vontade, sem compromisso de merchandising.

- Ahhh, aí o senhor tá certo, sim! E no final de tudo, tem de ter dinheiro sobrando no bolso pra ir atrás de tudo que se inventa, né!?

- Exatamente! O que você acha de eu criar o "dia do Osmar"? A gente poderia inventar algumas coisas pro público consumir mais e mais, né!? Mas o beneficiado maior teria de ser eu...(risos)

- Ééé, pode crer, dotô, o senhor tem razão! Mas é dificil a gente sair dessa, né?

- Bastante, amigo, mas não impossível... eu já estou fora disso, graças a mim! (mais risos)

- Poxa, legal bater um papo com o senhor, obrigado pela atenção, viu!? Tudo de bom...

- Obrigado eu, valeu pela atenção!




Depois, na banca de jornal...

- Nossa, já está no número 4 a coleção "clique a clique"?

- Pois é, o senhor levou só o número 1, né?

Eu estava com pouca grana no bolso...

- Então, guarde os outros três pra mim, você sabe que eu venho buscar, certo?

- Eu sei, sim, pode deixar.Repentinamente, percebo que o preço dos outros exemplares não era mais igual ao do lançamento, R$9,90, mas, sim R$19,90!!!

- Pô, mas que sacanagem, os caras lançam a um preço, fazem a cabeça do consumidor e, depois, mostram o que estava escondido!!!

- É isso mesmo, eles fazem um tipo de "maquiagem" no produto pra depois mostrar a cara verdadeira!

- Ahhh, não gostei disso, é propaganda enganosa, não acha? Depois dessa, vou repensar se continuo a colecionar... que saco!

- Olha, sinceramente? Eu, se fosse o senhor, não colecionava, não! Olhe só (mostrando o índice dos volumes a serem publicados), este não é importante. Este aqui o senhor vai utilizar pra alguma coisa? E este outro, se quizer, eu sei ensinar o senhor como mexer com fotoshop... na boa!

- Ahhh, eu agradeço pela atenção, não é necessário isso, mas, cá entre nós, o que você acha disso?

- Sinceramente mesmo? Eles vão ficar com material encalhado e, depois, vão vender a preço de banana, sabe, tipo "leve dois, pague um"...

-Sério mesmo?

- Pode acreditar no que estou falando, eu conheço isso há muito tempo, tenho experiência! Mas, tô falando sério, se quizer, posso dar alguns toques pro senhor, algumas dicas, porque conheço um monte de coisas...

- Pô, amigo, eu te agradeço mesmo, sabe, e vou repensar nisso que acabou de me falar; tô achando que você tem razão, esse pessoal quer mesmo é enfiar os produtos na cara do consumidor! Olhe, se até amanhã não vier buscar, pode deixar de reservar pra mim, ok? Por enquanto, te agradeço mesmo, amigo, a gente volta a se falar, muito obrigado mesmo, até amanhã!

- Falô!

Às vezes, para o bom entendedor não é necessária palavra alguma! E voltei a ficar bem humorado...






quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Normopatia.

* Vale a pena ressaltar que por uma série de motivos não tenho andado por aqui... falta de vontade de escrever, muito embora não me faltem as tais idéias, paciência, corre-corre, enfim, coisas que fazem parte das vicissitudes de um mero humano como eu, mas faço questão de publicar este maravilhoso texto que acabei de ler há poucos instantes atrás... O assunto é mais sério do que podemos imaginar e, por incrível que pareça, combina muito, mas muito com certas coisas que se processam dentro de mim. Leiam com atenção e... reflitam!


Normopatia / pelo dr. Geraldo Mendes dos Santos *
Há claras evidências de que a sociedade moderna, em especial a brasileira, está padecendo de um triste e grave mal, o qual pode ser chamado de "Normopatia". Trata-se de uma letargia inexplicável, doentio imobilismo, cruel apatia, verdadeiro espasmo psíquico, onde tudo parece aceitável e normal, até mesmo as mais brutais degenerescências, as mais extravagantes aberrações, nefastas excrescências, as mais terríveis anomalias humanas.
Observa-se por toda parte um certo senso de indignação, descrença e perplexidade de todos frente à pobreza, violência, injustiça, corrupção, politicagem e outras mazelas sociais, entretanto nada de profundo se faz para reverter esta situação. Todos parecem vítimas silenciosas, por todos os lados impera o pacto da nulidade e da inoperância. Não mais correm manifestações arrojadas e empolgantes, movimentos populares entusiasmantes. Tem-se a impressão que a sociedade está atônita, inerte, engessada, tonta, semi-morta.
O egoismo é um sentimento crescente e as pessoas parecem estar perdendo o sentimento da compaixão e comunhão com o sentimento alheio, prostituição e exclusão, abate das florestas e dos cerrados e perda dos solos, com contaminação das águas, com a destruição do meio. A brutal violência, diáriamente estampada nos jornais, bate-papo na rua e nos programas de televisão e rádio quando muito despertam curiosidade, não mais espanto, nada de comiseração.
A Normopatia parece ser uma doença contagiosa, provocada principalmente pela insensatez e ganância embutidos nos programas econômicos, na alternância estonteante dos padrões tecnológicos e nas violentas modificações dos paradigmas éticos e morais.
Consequências mais imediatas e visíveis de seu quadro clínico são a falta de assistência aos necessitados, o terror das drogas, o empobrecimento dos assalariados e trabalhadores, a banalização da violência. Seu principal agente infeccioso é o capitalismo neo-liberal, destruidor da produção em pequena escala, gerador da concentração da riqueza nas mãos dos poucos espertalhões sem cara, nome ou endereço.
Os veículos de propagação desse mal são as lideranças políticas e seus apaniguados que traem o interesse do povo, vendem o patrimônio da nação e aderem cinicamente ao mercado internacional globalizante, insensível, selvagem e humilhante onde a ordem é tirar o máximo lucro, mesmo que à custa a degradação ambiental, a dor, a doença, a fome.
Neste sistema político, a tecnologia parece ser apanágio de modernidade e salvação coletiva, mas os consumidores se deparam constantemente com placebos em lugar de remédios, automóveis e instrumentos fabricados com a absoluta e baixíssima previsão de longevidade, além de montanhas de sucatas e lixos atômicos, alimentos inseguros e perigosos com o pomposo nome de transgênicos.
No universo virtual, as pessoas pouco produzem e descansam, pois como escravos, passam noites e dias debruçados em micros, navegando em busca de negócios, dados, notícias ou meras distrações. No mundo da economia, a ordem do dia é compra/venda, de preferência com o máximo de lucro! E também não importa o que se negocia, se supérfluos, drogas, venenos, órgãos humanos, orgias, promessas de beleza e sucesso, salvação da alma, levianas utopias!
Ciência do momento, além da informática é o marketing, que cria expectativa e necessidade, vende imagem de progresso, transforma assassino em vítima, bandido em mocinho, malfeitor em boa-gente. O noropata é normalmente acomodado, passivo, intransigente, orgulhoso, sem muita esperança, criatividade para nada; seu jargão predileto é aquele que diz "tá bom demais, se melhorar estraga!".
Ao mesmo tempo é uma criatura fraca, que se deixa levar fácilmente pelos apelos da mídia, pelas benesses dos privilégios, ações dos maus políticos, pelas tentações da gula, da rede e da cama.
Não é preciso ser médico, filósofo ou humanista para perceber que se faz necessária a aplicação de poderosos remédios e práticas para combater esse terrível mal que aflige a humanidade, sobretudo a sociedade capitalista - geradora de Babéis, Sodomas, Gomorras, Favelas... S.O.S.!

* dr. Geraldo Mendes dos Santos - pesquisador no Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática (CPBA).




sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Fehlleistung (ato falho).



Ele não parava de correr de um lado pro outro; um garoto cheio de energia e com muita vida pela frente (talvez uns dois anos de idade), mas já conseguia deixar a jovem mamãe de cabelos em pé!
- Pára quieto, Duuu, não vai pra fora da guia, os carros vão te pegar!!!!! - Vez ou outra, ele fazia que estava sériamente preocupado com as palavras dela. Num átimo intempestivo, dono de sí e todo cheio de querer, pegou a embalagem do suco arremessando-a na rua...
- Duuu, não é assim que faz; por causa disso é que acaba tendo enchente, sabia disso? Enchente... será que o pequeno sabia o peso dessa palavra? Pelo jeito, não, pois novamente arremessou a tal embalagem na rua...
- Duuuuuuu, você me deixa louca, pára com isso! Já não falei que sujeira no chão dá enchente????? Alma lavada, mais calma e gentil depois da bronca, ela apanhou o papelucho e o jogou no cercadinho de uma árvore... A intenção foi nobre, mas o ato, falho.

Fehlleistung!



quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Um viva à tecnologia!

Ando sempre avesso ao uso indevido e exacerbado que as pessoas fazem das facilidades que a tecnologia oferece - dificil de explicar, mas penso que a cada dia que passa, uma infinidade de "maravilhas" vão aparecendo e se mostrando às pessoas ávidas em consumir tudo como se fosse um prato cheio; tenho a impressão que elas acabam meio que escravas do consumismo barato e fútil, e enxergo isso com uma certa reserva e aversão.

Hoje, porém, aconteceu um fato interessante e que, ao mesmo tempo, me deixou um pouco mais à vontade em meio a esse meu estado de prontidão para com o novo.

Saí de casa apressado, minha meta era pagar um boleto bancário que vencia na data de hoje. Chegando ao banco, dirigí-me aos caixas eletrônicos e qual não foi minha surpresa e raiva ao perceber que deixara o tal boleto em minha escrivaninha... Depois de algumas cobras e lagartos soltados para comigo mesmo, lembrei-me que todo boleto tem um código de barras que, por sua vez, possue uma numeração, uma espécie de código, que define e resume tudas as informações visíveis que o mesmo contém. Ora viva, uma luz no fim do túnel...

Imediatamente, perguntei ao funcionário de plantão se haveria possibilidades de realizar o pagamento telefonando para minha residência e anotando os dados numéricos, ao que ele, muito gentilmente, me ensinou todo o processo e... Urraaa, deu certo! Consegui efetuar o pagamento depois de contatar com minha esposa através do celular... e isso salvou meu dia, pois o fato de ter de voltar até minha casa para apanhar o documento esquecido e retornar ao banco já havia me causado um verdadeiro transtorno, haja visto que havia, também, o fator tempo nisso tudo - saindo dali, eu iria direto a uma consulta médica.

Acho que foi a primeira vez que utilizei meu celular de forma tão coerente e, ao mesmo tempo, ansioso e feliz por um resultado que acabou acontecendo. Em pensamento, acabei dando um verdadeiro "viva" à tecnologia! Ao fazer uso de forma racional e procedente de um mero celular - representante infinitesimal do que o mundo pode me oferecer - acabei por não agredir a mim próprio com as luvas do consumismo selvagem e desnecessário, e isso me deixou feliz... viva!


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Mais música e sonho...



Certamente minha Sampa mudou muito - às vezes penso que para pior, mas acontecem certas coisas que acabam me deixando "nas nuvens"...

Metrô Vila Madalena - conheço essa região desde minha adolescência, nem existia essa estação de trem, mas o trânsito e o burburinho sempre foram intensos. Vou chegando perto da fila das vans que levam os passageiros à estação Cidade Universitária e, repentinamente, diviso dois jovens que deveriam ter no máximo uns vinte e um anos de idade. Vestidos com muita simplicidade e tendo à frente de ambos um chapéu jogado ao chão (haviam moedas dentro), cantavam uma melodia em inglês muito bonita - os dois cantavam a duas vozes, um tocava um violão simples, de cordas de aço e muito bem afinado, e o outro fazia a percussão numa espécie de pandeiro. O que importa mesmo é que aquele momento, para mim, foi bastante especial; esqueci de todo e qualquer pensamento adverso que estivesse cutucando minha mente e só me concentrei nos dois cantando aquela melodia deliciosa. Foi um prazer indizível, principalmente pelo fato de eu amar a música, mas, ao mesmo tempo, sentí-me um privilegiado, como se aquela melodia adentrasse minha alma, um presente dos ceus... e acho que foi mesmo, porque aqueles poucos instantes me permitiram ter a sensação que olhava para dois anjos imersos na música. Normalmente, fico meio impaciente aguardando na fila até que chegue minha vez de entrar no veículo, mas, hoje, pela primeira vez, torci para que demorasse um pouco mais, mas... não demorou, infelizmente! Meti a mão nos bolsos à procura de moedas e as deixei com o maior prazer dentro daquele chapéu que, na minha opinião, deveria estar repleto, transbordante, mas que na verdade não apresentava tais características, infelizmente. Em seguida, duas pessoas que estavam próximas a mim fizeram o mesmo, jogaram algum dinheiro lá dentro recebendo, de imediato, o agradecimento da dupla.

Segui meu destino, olhando e olhando até as figuras e o som desaparecerem por completo e tive a falsa sensação de estar num país diferente, socialmente desenvolvido, mas logo cai na real, o sonho foi-se tão rapidamente como a mim chegou... de imediato lembrei do triste fato ocorrido há pouco tempo atrás, creio que no dia 17 de novembro último, quando policiais da PM prenderam um guitarrista nas imediações da av. Paulista, comprometidos com ordens do prefeito Kassab. Eu me lembro muito bem disso, pois fiquei muito revoltado com esse fato - mais um que entra para o "Livro Negro da Arbitrariedade no Brasil"!
Momentaneamente, como já relatei acima, eu me sentí num país socialmente desenvolvido, com visão e normas voltadas para cidadãos; foi tão bom, tão gratificante ter-me permitido apreciar aqueles dois rapazes envoltos em sua arte na rua e em sua forma simples e bela de captar recursos próprios, mas... foi só por breves momentos, só isso! O sonho desfez-se rápidamente, enquanto a perua seguia seu destino, fazendo-me cair na real - o sonho transformou-se num pesadelo porque, numa fração de segundo, imaginei que aqueles dois moços poderiam ser meus filhos - e eu tenho dois filhos músicos! Um calafrio perspassou meu pescoço, pois percebi que o que havia imaginado não fôra nada surpreendentemente irreal, ao contrário, poderia ter acontecido com qualquer um - de repente, o nosso filho poderia ser o próximo! Meus filhos não utilizam essa fórmula para ganhar o pão de cada dia, não precisam disso, mas enxerguei naqueles músicos uma possibilidade, mesmo que remota, disso acontecer com eles e com outras pessoas mais... o mundo dá muitas voltas!
E senti vergonha alheia; senti uma pontada no coração ao lembrar de algumas fotos que uma amiga me enviou numa viagem à Europa, onde músicos próximo ao metrô acabam não só "enfeitando" o local, como, também, demonstrando que são respeitados pelo que fazem.

Aqui, a degradação social e a corrupção estão tão afloradas e enraizadas, tão em voga, que o povo já acabou se acostumando com barbaridades desse e de outros gêneros - a alta rotatividade dos fatos negativos acabou como que "vacinando" as pessoas para com as aberrações que se sucedem diáriamente, infelizmente! Políticos, pessoas corruptas ligadas às altas esferas, traficantes e toda uma rede afim acabam, normalmente, se dando bem por aqui - a prisão acaba sendo um mero substantivo em suas vidas, só isso! Sem querer, consegui ensergar-me naquela situação surreal, cercado de policiais, sendo algemado, meu instrumento jogado ao chão sem o menor respeito e tremi... tremi de medo e, também, de raiva por tudo que se passou em minha mente naqueles instantes, e sei que o que senti não foi algo ligado a um sonho, não, mas, sim, a um pesadelo...

E me pergunto até quando esses e outros fatos continuarão marcando, ou melhor, sujando as páginas de nossa história já tão manchada e vilipendiada... até quando!?






quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Música e sonho.









Fechei 2010 com saldo musical positivo, isso é muito legal! Hoje faço parte de uma banda, um grupo de pessoas que, além de uma amizade sólida, possuem interesses musicais bastante comuns, graças ao cosmo. Fizemos poucas apresentações, o suficiente, porém, para concluirmos que a banda deu certo -nosso "time" e nosso "feeling" musicais nos mostraram isso.
O universo é um manancial de surpresas; às vezes, temos a impressão de que determinadas coisas ou pessoas, por mais explícitas que sejam, se escondem, criando um estado de angústia interior, como se algo ou tudo esperado nunca fosse dar certo, mas... eis a magia - o Tempo - em seu ritmo constante e imutável, acaba trazendo à tona surpresas indizíveis.
Meu projeto musical permaneceu latente por quase cinco anos, ora tentando resgatá-lo o mais urgente possivel, ora esquecendo-o em função de outras coisas que a vida se nos apresenta; tantos altos e baixos, encontros que não aconteceram (tudo tem seu tempo!), até que, de agosto a novembro do ano passado, a vontade e a ansiedade espocaram juntas, e consegui parir um trabalho, que gratificante isso é...
Durante a maior parte de minha vida, releguei a música a um plano nada louvável, substituindo-a por uma atividade da qual não tenho saudades - desde garoto, trabalhei em função de um salário, pela subsistência, enfim, por uma carteira registrada; meus pais me educaram assim, e eu acabei seguindo o curso desses preceitos, infelizmente. Isso tudo me legou uma aposentadoria e um problema crônico chamado de L.E.R./D.O.R.T. (lesões por esforços repetitivos e/ou distúrbios osteo-musculares relacionados ao trabalho), nada mais.
Há bons anos atrás, minha médica me aconselhou a não deixar de tocar, de pegar meu violão, pois isso não interferiria negativamente nesse meu processo crônico; ao contrário, me faria muito bem, principalmente à minha alma... e segui seu conselho, abraçando meu instrumento numa relação gostosa e, ao mesmo tempo, temerosa, mas que fui me acostumando até perceber que isso realmente me fazia bem. Não frequentei escola de música; a única experiência marcante foi estudar guitarra por mais ou menos um ano com um professor particular, mas isso pouco interferiu naquilo que chamo de "minha pegada pessoal" - um jeito meu de tocar o violão, explorando as cordas superiores como que fazendo uma espécie de baixaria conjunta à harmonia.
Acho que deu certo; muita gente me diz que toco de um jeito interessante, que tenho uma pegada legal, e isso me deixa feliz, muito feliz mesmo, é o jeito que dei, e isso me deixa satisfeito em relação ao que consegui e consigo explorar no universo de minha musicalidade. E como tenho muita sintonia e facilidade com o contrabaixo, fiz disso um prolongamento nessa minha proposta musical, tanto que são esses os dois instrumentos que toco - o violão e o contrabaixo.
Percebo que fiz coisas extremamente marcantes e densas no decorrer de minha vida e, também, coloquei outras no baú do esquecimento - a principal de todas foi exatamente ter deixado de me dedicar à Música de cabeça e alma durante pelo menos dois terços de minha vida - e todo esse tempo pesou em mim, em meu coração, em minha alma, tanto que até cheguei a pensar em nunca mais pegar num violão, afinal de contas, isso não me levaria a qualquer ponto de convergência entre minhas vontades e minhas desvontades na vida... mas errei, ainda bem! Errei e só eu sei o quão importante foi resgatar um tempo só meu, um tempo onde eu me permiti não parar de tocar...
Percebo, também, que há determinadas coisas que não estão mais à minha mercê como, por exemplo, estudar técnica de instrumento exaustivamente - cheguei à conclusão que o que faço, apesar de simples, é bem feito e executado dentro de meu jogo de cintura, por sua vez, consegue atender determinadas exigências no processo de um trabalho em grupo, e isso me faz sentir muito bem comigo e com eles.
Fazemos um trabalho acústico muito legal, que vai do Pop ao Rock, sem deixar de passar pela boa MPB, as pessoas tem gostado bastante dessa nossa proposta e temos sido muito bem recebidos e ovacionados pela platéia - isso é maravilhoso!
Eu e meus dois amigos da banda temos muito em comum, faixa etária, gosto musical, geração afim, mas o principal mesmo é a amizade sincera e o caminho espiritual comum a todos - somos irmãos de fé!
Estou iniciando um ano que me promete boas surpresas no campo musical, e tenho certeza que isso irá acontecer, graças a mim, graças aos meus companheiros, graças ao plano divino; sem falsa modéstia, percebo que cada um de nós está dando o melhor de si e no conjunto dos bons momentos que temos passado juntos, é edificante, é compensador, é... merecedor dentro do quinhão de cada um!
Não faço ideia do quanto irei viver ainda, e isso realmente não me importa! Há pessoas que desejam viver muitos e muitos anos, outros, temem a morte, enfim, cada um tem seus motivos pessoais quanto à expectativa de vida, mas o que penso e quero, daqui para frente, é conseguir realizar poucas e boas coisas que compõe o leque de minhas aspirações - e, sem dúvida alguma, a Música ainda ocupa primeiro lugar no meu pódium pessoal; pretendo (e vou) viver o suficiente para cobrir determinadas lacunas que ainda estão em minha alma... morrer será consequência, e no tempo certo, sem medo ou arrependimento!
Agradeço, também, pela força da família, em particular o incentivo constante da Carmo e o carinho de meus filhos, principalmente no dia da nossa estreia - nós quatro sabemos da importância da música no nosso dia-a-dia, sem deixar de louvar os amigos que também fazem parte dessa salada musical... como diz o velho ditado "cada macaco no seu galho", e todos no mesmo movimento, não é mesmo?
Sonhar ainda é bom... os "3 THOTTENS" que o digam!