quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ó, Doce Yá...

Segundona, dia cheio prá muita gente, menos prá mim; estou me preparando para fechar a porta e correr à praia que me espera como uma Yemanjá prontinha a me embalar... Opa, de repente, a lembrança - Acender a vela azul clara prá minha doce Yá! Aí, então, depois de uma prece feita de coração, caminhar pela praia como se o mundo estivesse aos meus pés.

Menos de um quilometro percorrido e diviso uma porção de pessoas que, em seus ritualísticos, se preparam para uma pequena cerimônia; vão entregar um barquinho que, no movimento de vai-e-vem das ondas, irá direto para o alto mar - isto é, se a Senhora das Águas aceitar a oferenda, caso contrário, retornará à praia (pois em ambas as situações, o que vale é a intenção do ofertório).

Atabaques em uníssono, pontos cantados aos Orixás, a defumação presente e, de repente, sou saudado pela Mãe-de-Santo que, de incensário na mão, me abençoa em meio a outros devotos; ganhei até uma mensagem de presente - "abra teu sorriso ao mundo para conseguir o que necessitas...". Hmmm, muito interessante, haja visto como venho me surpreendendo com o jeito que vislumbro a vida...

Aceito a benção e giro meu corpo 360 graus em sinal de respeito e agradecimento, e abro um admirável sorriso para aquela mulher que, sem me conhecer, acabou tocando minha alma de forma singular - simples em seu jeito de ser e majestosa em sua essência.

O barquinho é conduzido para além das sete ondas com muito carinho e respeito, propiciando um clima de ansiedade geral, onde é fácil de se ler nos semblantes frases do tipo "ai, meu Deus, não deixe o barquinho voltar, não!"... E não voltou!

Doce Yá aceitou o mimo que, lentamente, foi sumindo em direção ao alto mar para, depois, ser tragado pela imensidão dos domínios dessa fantástica Senhora.

Meus olhos perderam de vista a frágil embarcação, e meu coração encheu-se com a certeza de que aquilo não acontecera por acaso, não. Houve, sim, a incrivel e maravilhosa conexão de meu ser com a força e a energia de Yemanjá... e não foi preciso que a terra estremecesse ou, então, que o mar adentrasse com sua fúria para que isso fosse sentido, pois Ela é amor puro, por isso que se canta "como é lindo o canto de Yemanjá, faz até o pescador chorar, quem escuta a mãe d'água cantar, vai com ela pro fundo do mar, rainha das ondas, sereia do mar".

Ó, Doce Yá, eu te saúdo com muita ternura e com muito amor...